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Cálculo Renal

Nesta série de textos com perguntas e respostas, tentarei explicar de maneira simples e objetiva os principais aspectos relacionados aos sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção dos cálculos renais. Se persistirem dúvidas, não deixe de entrar em contato conosco...

 

 

Cálculo Renal – Parte I: É frequente? O que posso sentir?

 

O que é cálculo renal?

            O cálculo renal, ou nefrolitíase, nada mais é do que a união de cristais na urina que ao se juntarem nos rins formam uma massa maior, conhecida como “pedra nos rins”. A maior parte dos cálculos se forma no rim e fica nesse local; pode, entretanto, migrar para o ureter (ducto da via urinária que comunica o rim com a bexiga) ou bexiga; em determinadas situações pode se originar diretamente nesses locais apesar de mais raro. Vale ressaltar que o mecanismo de formação dos cálculos renais é completamente diferente dos cálculos de vesícula biliar. Ter um não aumenta o risco de ter o outro.

 

Qual minha chance de ter um cálculo renal?

            Dados mundiais mostram que a incidência da litíase renal vem aumentando, atingindo de 8 a 12% da população mundial, com maior incidência em pessoas de meia idade. Homens tem uma chance um pouco maior que mulheres de desenvolverem a doença.

 

Do que são feitos os cálculos renais?

Os cálculos renais são o produto final de um fenômeno físico-químico complexo que culmina com agregação de cristais na urina. A maior parte dos cálculos  renais contém cálcio (80%), mas podem ainda ser de ácido úrico (5-10%), associado a infecções (5-10%),  de cistina (1%), e outros mais raros (1%). Se os cálculos se iniciarem na infância, eles merecem atenção especial e têm maior chance de ocorrer por erros inatos do metabolismo e/ou doenças genéticas como por exemplo a cistinúria.

 

Quais as principais causas para a formação do cálculo renal?

O cálculo renal provém de uma predisposição genética mas acima de tudo de fatores ambientais. No brasileiro, a baixa ingestão hídrica e o cálcio elevado na urina são os principais fatores que levam à formação dos cálculos. A urina fica literalmente concentrada e favorece a agregação dos cristais que por conta disso estão mais próximos e precipitam na forma da litíase renal. A alimentação inadequada e distúrbios metabólicos também influem na formação dos cálculos, mas devem ser abordados por um urologista especialista na área. Nenhuma restrição alimentar deve ser adotada antes disso.

 

Quais são os sintomas mais comuns do cálculo renal?

            Os cálculos renais podem causar diferentes sintomas a depender da localização, tamanho e impacto na via urinária. O sintoma mais clássico relacionado ao cálculo é a dor lombar de forte intensidade que ocorre repentinamente, que se reflete na parte anterior do abdome, geralmente associada a náuseas e vômitos. Outros sintomas são: vontade freqüente de urinar, dor na hora de urinar, infecção urinária com ou sem febre, urina com sangue. É importante ressaltar que muitos cálculos renais são assintomáticos ou silenciosos. Mesmo assim, merecem tratamento, pois a chance de crescimento, migração com dor, obstrução ao o rim, sangramento ou infecção na urina chega a 80% em 5 anos.

 

 

Cálculo Renal – Parte II: Como diagnosticar, tratar e prevenir?

 

Como as pedras nos rins podem ser diagnosticadas?

            Na maioria dos casos, a litíase urinária é descoberta na ocasião dos sintomas descritos acima. Entretanto, a pedra no rim pode ser assintomática e reconhecida em exames de rotina. A ultrassonografia e o raio-X de abdome são classicamente os exames iniciais no diagnóstico do cálculo urinário, mas o exame com maior precisão é a tomografia computadorizada sem a necessidade do uso de contraste, a qual atualmente vem sendo realizada já desde o início do quadro em diversos serviços de saúde de excelência.

 

Quais as principais formas de tratamento do cálculo renal?

            O tratamento do cálculo renal depende do tipo de cálculo, tamanho, dureza, e acima de tudo dos sintomas. Para maiores detalhes, procure seu urologista. Em linhas gerais, cálculos pequenos de até 5 mm podem ser acompanhados se assintomáticos, mas o portador de litíase deve saber dos riscos deste seguimento sem intervenção, expostos no texto acima.

Para cálculos renais maiores, de até 20 mm, podemos optar por litotripsia extra-corpórea por ondas de choque (LECO) ou cirurgia endoscópica sem corte pelo canal da urina. O primeiro é tratamento mais antigo, ainda utilizado em muitos casos com características favoráveis para seu sucesso. A última se chama nefrolitotripsia transureteroscópica flexível e é o tratamento mais moderno e especializado, no qual o laser é empregado.

Para cálculos maiores de 20 mm ou na falha das técnica anteriores, empregamos a nefrolitotripsia percutânea. É cirurgia na qual desenvolve-se um trajeto do rim á pele e por meio desta comunicação utiliza-se equipamentos específicos que quebram e aspiram os cálculos. Trata-se de tratamento com um risco um pouco mais elevado e que deve ser realizado por urologista altamente treinado na técnica.

O tratamento clínico concomitante ao cirúrgico é de extrema importância. Baseia-se na composição do cálculo e nos distúrbios metabólicos do portador de litíase. Procure um especialista na área.

 

Já tive pedra nos rins – tenho maior risco de ter novos calculos?

           Infelizmente sim. Sem tratamento preventivo, até 70% dos pacientes que tiveram pedra no rim terão outro episódio semelhante. Ou porque não modificaram adequadamente seus hábitos alimentares ou porque o tratamento não conseguiu eliminar completamente o cálculo, deixando resíduos que resultam em nova precipitação de cálculo. Apesar da litíase renal não ter a gravidade de doenças como os cânceres, é uma patologia recorrente e por isso merece atenção e seguimento especial. Se não tratada, pode levar a insuficiência renal e até mesmo perda do rim ou da vida.

 

Como faço para prevenir a formação de cálculos?

           Isso varia caso a caso. Em linhas gerais, a maneira mais barata, simples e prática de evitar a formação de cálculos renais é manter a hidratação suficiente para que o débito urinário em 24 horas seja maior que 2 litros. O exame de urina de 24 horas deve sempre ser solicitado pelo urologista quando os cálculos atingem ambos os rins, em crianças, em casos recorrentes, nos casos de cálculos metabólicos, entre outros. Esse exame vai guiar o tratamento e a prevenção e o especialista indicará o melhor caminho a ser seguido.

 

 

 

Cálculo Renal – Parte III: Curiosidades...

 

O consumo de leite (e derivados) e a reposição de cálcio pode causar cálculo renal?

              A princípio não. A presença de cálculos de cálcio é mais relacionada a um distúrbio na capacidade de reabsorção de cálcio pelo rim (hipercalciuria idiopática), sendo muito menos freqüente devido à absorção intestinal exagerada (hipercalciúria absortiva). É um erro comum do leigo e até mesmo de alguns médicos iniciar uma alimentação pobre em cálcio. O consumo de leite e seus derivados deve ser normal, sem nenhum tipo de restrição na abordagem preventiva inicial da litíase.

 

Quem foi submetido a cirurgia bariátrica tem maior risco de ter pedra nos rins?

            Sim! O risco se eleva mais de duas vezes, principalmente pelo baixo volume urinário e por supersaturação de oxalato de cálcio na urina. O seguimento destes pacientes deve ser multidisciplinar a fim de evitar o crescimento excessivo das pedras. O tratamento segue a linha de raciocínio já exposta anteriormente.

 

 

A atividade física em excesso, sem reposição adequada de líquidos, pode favorecer o aparecimento do cálculo renal?

            Sim! Qualquer fator que leve ao baixo volume urinário favorece a aproximação dos cristais e sua precipitação na urina. Por esse motivo, os atletas devem se hidratar adequadamente a fim de manter o fluxo renal adequado, bebendo principalmente água durante e após o treino.

 

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Membro da Divisão de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

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