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Fimose - Perguntas e Respostas

POST – CIRCUNCISÃO  (cedida à revista digital Homem Feito)

 

Por Fábio Fernandes e Dr. Giovanni Scala Marchini

 

     Perguntas e respostas:

 

1- Quando a circuncisão é indicada no adulto?

 

     Existe alguma diferença entre a circuncisão na adolescência? Em primeiro lugar, acho que vale a pena definirmos o que é circuncisão e alguns outros termos que podem confundir as pessoas. A circuncisão consiste na retirada cirúrgica do excesso de pele prepúcio e de seu anel de estreitamento. Esse procedimento, cujo nome técnico é postectomia, também é conhecido como a famosa cirurgia de fimose, apesar de ser realizado às vezes mesmo que não exista fimose propiamente dita. As três indicações formais de postectomia são:

 1) Existência real de Fimose – esta consiste no estreitamento da pele do prepúcio que reveste a glande (cabeça do pênis), impedindo que a mesma seja exposta. Assim, muita gente que acha que tem fimose na verdade tem apenas um anel de estreitamento do prepúcio. Essa indicação é mais comum em crianças e adolescentes, mas pode ocorrer em adultos.

 2) Ocorrência de Pararafimose – evento não muito comum, no qual ocorre garroteamento da glande pela pele estreita do prepúcio no momento que a mesma é reduzida (puxada para a base do pênis). Assim, isso só ocorre se o prepúcio tiver um anel estreito o bastanta para dificultar seu retorno ao redor da glande. Parafimose tem maior incidência em adolescentes.

 3) Balanite ou Balanopostite – inflamação da glande e da pele que a envolve, o prepúcio. Isso é mais comum nos adultos. Logicamete, tais individuos devem ser avaliados previamente com exames laboratoriais, pois algumas doenças que afetam a imunidade a exemplo do diabetes melitus podem ter como manifestaçao inicial essa inflamação de repetiçao ou a fimose de aparecimento da idade adulta. Não e imcomum a Diabetes ter como apresentação inicial uma balanite. Muitas vezes, após o controle do Diabetes a inflamacao peniana cessa e a cirurgia perde sua indicação. Ainda, por comprometer a circulacao, cicatrizacao e imunidade, operar alguém com Diabetes descompensada pode culminar com complicações infecciosas e piora estética da cicatriz.

     Portanto, enquanto em crianças e adolescentes é mais comum a cirurgia por fimose ou parafimose, no adulto a maior parte das vezes ela é indicada por balanopostite de repetição ou fimose de aparecimento tardio. Se considerarmos as indicações acima, apenas 2 a 5% dos homens precisarão de postectomia por motivos médicos. Entretanto, em algumas religiões a exemplo do judaismo a cirurgia de circuncizão é realizada de rotina na infância, independente dos fatores apresentados.

 

2- Quais são, a longo prazo, as vantagens da cirurgia?

 

     Estudos apontam que a circuncisão rotineira na criança preveniria algumas doenças como a própria balanopostite (especialmente em indivíduos diabéticos), o líquen esclerosante atronco (doença mais rara), o câncer do pênis, e finalmente as doenças sexualmente transmissíveis (exemplos de DTSs: sífilis, cancro mole, herpes genital, HIV/SIDA, HPV, etc). O câncer de pênis ocorre com maior frequência em adultos na quarta e quinta décadas de vida, principalmente em indivíduos portadores de fimose, prepúcio exuberante e/ou com maus hábitos de higiene. A circuncisão permite uma melhor higiene local da glande e do prepúcio, diminuindo ainda o atrito dessas regiões com o genital do parceiro/a no momento do intercurso sexual. Indivíduos operados apresentam menores taxas de DSTs quando comparados aos operados. O valor profilático da cirurgia ainda se mostra presente no fato de judeus e indivíduos operados terem menor incidência de câncer de pênis que a população geral. Entretanto, a postectomia realizada na vida adulta não impede o desenvolvimento do câncer de pênis pelo fato dos fatores indutores do câncer estarem presentes desde a infância. Por tudo que foi exposto, alguns urologistas defendem a cirurgia de postectomia em todas as crianças, mas essa conduta não é um consenso geral.

 

3- Toda irritação no prepucio leva à circuncisão? Há opções para manter o prepúcio?

 

     Nem sempre a balanite leva à cirurgia. Conforme exposto no início do texto, a irritação só obriga tratamento cirúrgico se ocorrer de maneira repetitiva, sem melhora com o tratamento medicamento. Reitera-se a importância de se excluir problemas imunológicos como o Diabetes nesses indivíduos.

     Na obrigatoriedade da cirurgia por persistência do quadro, o indivídio deve entrar em consenso com seu médico na quantidade de pele de prepúcio que será preservada no ato cirúrgico. Idealmente, deve-se retirar pelo menos todo o anel de estreitamento. Além disso, como o objetivo principal da cirurgia é evitar que a pele recubra completamente a glande, dificultando a higiene, procura-se deixar o máximo de pele desde que ela não proporcione acúmulo de secreção das gândulas penianas, comprometendo a limpeza local.

 

4- Muitos homens intactos reclamam da sensibilidade excessiva. A cirurgia muda a sensibilidade peniana e altera a qualidade do sexo?

 

     Essa é uma preocupação frequente das pessoas, que inclusive leva alguns indíviduos a não operar por medo. Logo após a cirurgia, há sim um aumento da sensibilidade pelo fato da glande, parte muito sensível do pênis que antes ficava protegida pela pele, estar agora mais exposta. Mas essa sensação dura apenas algumas semanas em geral. Depois de algum tempo tudo volta ao normal, e a vida sexual em nada é prejudicada. Pelo contrário, sem o excesso de pele, sem a dor da exposição da glande em anel estreito, e sem as balanites, ocorre maior lubrificação do pênis que facilita a penetração e o ato sexual.

     Interessante observar que algumas pessoas que não operaram e que possuem clara sensibilidade exacerbada do prepúcio, até mesmo referindo ejaculacao precoce por esse motivo, são beneficiadas da cirurgia caso não melhorem com tratamento medicamentoso específico para isso.

     Por fim, não poderíamos deixar de comentar sobre a cicatriz da cirurgia. A cicatrizão depende da maneira como os pontos são dados mas depende acima de tudo do próprio organismo da pessoa. Aqueles individuos com cicatrizes prévias em outros locais já demonstrando maior área de fibrose com pele elevada apresentam indícios que terão uma pior cicatrização. Entretanto, queixas nesse sentido são incomuns. A cicatriz da postectomia fica, em geral, boa do ponto de vista estético.

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Membro da Divisão de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

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